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Liderança e Resiliência Feminina na Guatemala
Published 03/12/2025 by sflorencio

Por Mabel Bejarano e Paula Rudnicka
Há mais de 10 anos, a Global Communities Internacional iniciou na Guatemala a iniciativa Mulheres Empoderadas (WE) – do inglês, Women Empowered. O que começou como um pequeno projeto-piloto em Huehuetenango cresceu e se tornou um movimento nacional, impulsionando a liderança feminina e a participação social e econômica por meio de grupos comunitários de poupança.
Impulsionado pela inovação e pelo compromisso com a adaptação contínua, o WE já empoderou mais de 25.000 mulheres guatemaltecas e suas famílias, inspirando gerações de líderes e agentes de transformação. Hoje, o WE não é apenas um programa – é uma força de transformação.
Nesta entrevista, Mabel Bejarano Cobo, Assessora Técnica Global para Grupos de Poupança e Empoderamento Feminino, conversa com Ileana Nataly Larios Guillen, Coordenadora Nacional para o Empoderamento Feminino, sobre o impacto duradouro do programa WE na Guatemala.
No ano passado, Ileana recebeu o prêmio Global Hero por sua liderança excepcional no apoio a milhares de mulheres na construção da educação financeira, no aumento de suas economias, no investimento em atividades geradoras de renda e na conquista de espaços de liderança em suas famílias e comunidades.
A conversa foi editada para concisão e clareza.
Mabel: Você poderia compartilhar uma visão geral do trabalho da Global Communities na Guatemala? Quais são os principais componentes de nossos programas e como atuamos para alcançar nossos objetivos?
Nataly: A Global Communities tem quase 50 anos de experiência na Guatemala, com foco principal na região oeste do país. Nosso trabalho abrange diversas áreas, desde assistência humanitária e redução de riscos de desastres até segurança alimentar, participação econômica das mulheres e educação no ensino fundamental.
Trabalhamos em estreita colaboração com populações indígenas, governos locais e nacionais, e entidades do setor privado para gerar sinergias e ampliar nosso impacto. Nossas abordagens incluem a mobilização da ação individual e coletiva, e nosso principal objetivo é apoiar famílias em todo o país, especialmente em áreas rurais.

Mabel: Por que promover a participação e liderança das mulheres é importante ao trabalhar nesse tipo de programa?
Nataly: Em áreas rurais da Guatemala, a maioria das mulheres trabalha em casa, o que lhes permite desempenhar papéis cruciais em suas comunidades. Isso inclui a participação em grupos de poupança comunitária, que nós formamos e apoiamos. Muitas mulheres com as quais trabalhamos demonstram um grande potencial de liderança.
À medida que sua autoestima aumenta, elas começam a tomar decisões, assumir posições de liderança e se conectar com as estruturas comunitárias. Algumas se tornam catalisadoras de transformação, mobilizando as comunidades para tomar ações coletivas e melhorar a vida de todos.
Mabel: Como a Global Communities está apoiando as mulheres na Guatemala? Você pode fornecer um exemplo?
Nataly: A Global Communities integra sua metodologia exclusiva Mulheres Empoderadas (WE) em muitos programas na Guatemala. O WE é uma iniciativa global de grupos de poupança que promove a expansão das oportunidades econômicas e a participação das mulheres. O impacto que ela gera é verdadeiramente transformador. Quando as mulheres se juntam ao WE, elas começam uma jornada rumo à liderança.
Primeiro, elas desenvolvem seu poder intrínseco, ou o “poder interior”. Começam a se conectar com os conceitos de amor-próprio e autoestima. Elas se veem como indivíduos únicos, maiores do que a soma de suas partes. Elas são muito mais do que mães, filhas e esposas. Começam a acreditar em si mesmas.

Em segundo lugar, elas cultivam o seu “poder coletivo” ao se unirem aos grupos WE com outras mulheres de suas comunidades. Elas se conectam, oferecem apoio mútuo e se engajam em ações coletivas. E, em terceiro lugar, elas assumem posições de liderança dentro dos grupos WE, conduzindo reuniões ou facilitando discussões em grupo. Esses papéis permitem que elas ganhem experiência prática de liderança. Elas aprendem a arte da oratória e da tomada de decisões. Tornam-se mais confiantes para expressar suas opiniões, compartilhar suas ideias e defender suas necessidades. Além disso, adquirem novas habilidades, como educação financeira e empreendedorismo.
No final, muitas participantes dos grupos WE se tornam líderes em espaços públicos onde posições chave historicamente não eram acessíveis a elas. Nós as apoiamos em todas as etapas desse processo de desenvolvimento.
Mabel: Além dos programas de desenvolvimento, a Global Communities também oferece assistência humanitária na Guatemala, que é propensa a desastres naturais. Você pode nos falar sobre o nosso trabalho com WE em contextos de emergência?
Nataly: A Global Communities começou a integrar o WE nos programas de assistência humanitária em 2015. Desde então, implementamos o WE em oito programas de emergência: um em resposta aos deslizamentos de terra, um após a erupção do vulcão Fuego, e seis para combater a seca persistente, que resultou em insegurança alimentar generalizada e desnutrição entre as crianças.
Um dos objetivos mais importantes de trabalhar com grupos WE em contextos de emergência é fortalecer a resiliência das mulheres, para que elas possam suportar as emergências, se recuperar o mais rápido possível e estarem mais bem preparadas para futuros choques e tensões.


Trabalhamos com as mulheres em diversos aspectos da resiliência. À medida que sua autoestima e confiança crescem, as mulheres adquirem maior capacidade de tomar decisões rápidas e eficazes quando as emergências acontecem, tanto sozinhas quanto junto com seus cônjuges e famílias. Sua resiliência econômica também aumenta. Elas melhoram sua capacidade de economizar dinheiro para emergências e gerenciar recursos, incluindo assistência financeira multifuncional, após o início das emergências. Elas também adquirem conhecimentos e habilidades para iniciar ou expandir suas atividades de geração de renda, o que as ajuda a sustentar suas famílias em tempos difíceis.
Além disso, estamos observando um maior envolvimento das mulheres nos esforços de resposta e recuperação em desastres no nível comunitário. Muitas WE participantes integram brigadas de segurança, gerenciam abrigos ou se tornam líderes na área de segurança alimentar e nutrição, especialmente quando seus grupos de poupança são formados dentro de programas de assistência alimentar em emergências. É importante apoiá-las com conhecimentos e ferramentas para executar essas atividades.
Mabel: Como os grupos WE estão promovendo a ação coletiva em suas comunidades?
Nataly: Os grupos WE são muito mais do que bancos comunitários informais. Eles oferecem espaços seguros para as mulheres, onde elas podem compartilhar suas opiniões livremente e discutir questões sociais importantes que surgem em suas comunidades. Estar nesses espaços seguros permite que elas construam capital social, confiança e conexões, não apenas entre si, mas também com outros membros da comunidade. Elas ganham força para se manifestar e ser ouvidas. Depois, elas se unem para criar soluções para problemas comuns, elaborar planos de ação e executá-los em colaboração com outros líderes comunitários.
Mabel: Como o envolvimento e a liderança das mulheres contribuem para a sustentabilidade dos nossos programas?
Nataly: Como agentes de mudança profundamente enraizadas em suas comunidades, as mulheres podem usar suas novas habilidades e capacidades para impulsionar o progresso, mesmo após o encerramento de um programa da Global Communities. Elas também se tornam agentes de mudança dentro de suas próprias famílias, educando seus filhos sobre como fazer a diferença em suas comunidades.
Quando as filhas veem suas mães como modelos positivos, elas têm mais chances de crescer se sentindo empoderadas e se tornarem líderes também. Tenho muito orgulho desse impacto intergeracional duradouro do nosso trabalho.

Mabel: Qual é a sua visão para a implementação do WE na Guatemala nos próximos 5 a 10 anos? Quais são suas aspirações para o futuro?
Nataly: Para mim e para muitas mulheres na Guatemala, o WE é uma ferramenta poderosa para um impacto duradouro. Ele oferece novas oportunidades, novos conhecimentos, e abre os olhos das mulheres para novas possibilidades. Minha visão é expandir a iniciativa e alcançar ainda mais mulheres em toda a Guatemala. Será também importante expandirmos e fortalecermos nossas parcerias com atores locais que apoiam as mulheres, como as Direções Municipais para Mulheres e doadores privados. Isso tornará o WE mais forte e sustentável. O ponto chave é criar uma base a partir da qual as mulheres possam dar um grande passo à frente e buscar novas oportunidades sociais, de liderança e econômicas.
Mabel: Qual é a coisa mais importante que você gostaria que nosso público lembrasse sobre o WE na Guatemala? Do que você mais se orgulha?
Nataly: A inovação, no final das contas, é sobre pessoas, resolução de problemas e parcerias. As inovações mais bem-sucedidas são aquelas construídas com base na confiança, respeito e colaboração com as comunidades que buscamos apoiar. Empoderar as vozes locais no processo de inovação não só criam soluções favoráveis e enriquecedoras, mas também garante que nosso trabalho seja sustentável e fundamentado em necessidades genuínas, o que realmente acelera o impacto.
Mabel: Obrigada pelos seus insights, Nataly! Como nosso público pode aprender mais sobre o WE?
Nataly: No ano passado, celebramos o 10º aniversário do WE na Guatemala. Recomendo que explorem nossa história visual, “Mulheres Salvando para a Resiliência: Transformando Vidas Através de Soluções Inovadoras de Grupos de Poupança”.