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Inovação social em Ação: Entrevista com Radhika Bhavsar sobre como impulsionar impactos positivos
Published 05/06/2025 by sflorencio

Por Maureen Simpson
Se você perguntar a Radhika “Rad” Bhavsar, inovar significa se sentir desconfortável. Avanços valiosos e percepções transformadoras raramente surgem sem essa passagem necessária; o segredo está em confiar no processo.
“Acho que minha vida sempre foi feita de tentativa e erro, e é assim que se aprende mais rápido”, diz Rad, que atua como Especialista Técnica Sênior em Inovação na Global Communities. “Ninguém gosta de estar desconfortável, mas é preciso encontrar aquelas pessoas dispostas a dançar com você nesse processo, experimentar sem medo, ver o que funciona e deixar sua marca.”
Há mais de 15 anos, Rad vem deixando sua marca — ou melhor, várias delas — utilizando design centrado no ser humano e melhoria de processos para enfrentar desafios complexos em saúde pública e desenvolvimento global. Em 2024, foi reconhecida pelo San Diego Business Journal como uma das “40 com menos de 40” – Próximas Líderes Empresariais de Destaque, por seu trabalho em buscar soluções inovadoras para questões sociais complexas ao redor do mundo.
Conversei recentemente com Rad sobre como nossa equipe de inovação está ajudando a Global Communities a acelerar impactos positivos para as pessoas e para o planeta.
A entrevista foi editada para maior clareza e concisão.
Maureen: Você descreveu sua equipe, Innovation Works (IW), como uma startup dentro da organização. Como isso se traduz na prática e quais você vê como seus objetivos principais?
Rad: Como somos apenas eu e Chris Bessenecker, nosso Diretor Sênior de Inovação, operar como uma startup significa abraçar a agilidade, a experimentação e uma mentalidade colaborativa. Como uma equipe pequena de dois com recursos limitados, trabalhamos em um ritmo rápido, mantendo uma alta tolerância ao risco e ao fracasso.
Na prática, isso envolve criar um forte senso de trabalho em equipe e cocriar soluções com nossas equipes técnicas e de programas. Nossa principal estrutura para o sucesso gira em torno desses cinco passos:

Nosso objetivo para este ano é continuar construindo nosso ecossistema de inovação, expandindo nosso portfólio de inovações em produtos, processos e modelos de negócio. Também estamos nos esforçando para incorporar a criatividade — um dos cinco valores fundamentais da Global Communities — incentivando nossos colaboradores a abraçarem a curiosidade, experimentarem e pensarem fora da caixa.

Maureen: Como você explicaria o papel da inovação no desenvolvimento internacional?
Rad: A cada 15 anos, as Nações Unidas estabelecem metas ambiciosas, como os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), para enfrentar desafios globais, como acabar com a pobreza, alcançar a igualdade de gênero e garantir o acesso universal à saúde. Apenas 15% das 169 metas que compõem os 17 ODS estão no caminho certo para serem alcançadas até 2030. Se existe um momento para inovar, é agora.
Cada ODS representa um desafio que exige inovação, e nosso processo está enraizado no desenvolvimento de soluções que contribuam para esses objetivos globais abrangentes. Portanto, inovação no desenvolvimento internacional significa enfrentar criativamente esses desafios, entender suas causas raízes e construir soluções com impacto duradouro — e com velocidade.
É importante fazer isso rapidamente, porque o progresso real muitas vezes vem de abordagens ousadas e não convencionais. Trata-se de mudanças radicais, mas estruturadas, que geram transformação de forma rápida.
Maureen: Você pode compartilhar um projeto em que tenha orientado uma das nossas equipes em um sprint de design de inovação?
Rad: Em julho de 2024, Chris e eu orientamos a equipe do programa Healthy Start Enhanced – San Bernardino em um sprint de design de inovação para enfrentar as disparidades nas taxas de mortalidade infantil no Condado de San Bernardino, onde a taxa de mortalidade entre bebês negros não hispânicos é quase 2,5 vezes maior do que a de bebês brancos.
Um dos principais fatores que contribuem para essa disparidade é a baixa taxa de início e continuidade da amamentação entre mulheres negras, além das maiores taxas de baixo peso ao nascer, associadas a altos níveis de estresse e anemia. Serviços tradicionais de apoio à gestação, como doulas domiciliares e consultoras de amamentação, já demonstraram melhorar os desfechos de nascimento, mas continuam inacessíveis para muitas pessoas devido ao alto custo, que varia entre US$ 2.000 e US$ 6.500 por parto.

Durante o sprint de inovação, a equipe do Healthy Start desenvolveu as “Caixas Minha Linda Barriguinha” (My Beautiful Bump Boxes), uma solução econômica baseada nos trimestres da gestação, com o objetivo de melhorar os desfechos de nascimento por meio da oferta de produtos de apoio à gravidez acessíveis e de baixo custo, complementando os recursos já existentes. As caixas serão entregues diretamente nas residências das participantes e incluem produtos voltados para aumentar a adesão à amamentação e reduzir o estresse e a deficiência de ferro.
Entre os itens presentes estão o Lucky Iron Fish, que permite a infusão de ferro nas refeições; o LactApp, um aplicativo móvel de educação sobre amamentação para incentivar práticas desde o início; a bomba de leite vestível Willow; receitas nutritivas ricas em ferro; e tutoriais culinários acessíveis via QR Code.
Desde outubro, a equipe tem trabalhado para identificar clínicas de saúde locais e outros parceiros comunitários no Condado de San Bernardino para colaborar na implementação das Caixas Minha Linda Barriguinha. A validação do nosso modelo de prova de conceito permitirá avaliar se a iniciativa melhora as taxas de amamentação, aumenta a ingestão de ferro e reduz o estresse — garantindo, ao mesmo tempo, acessibilidade, simplicidade e escalabilidade por menos de US$ 200 por gestação.
Essa inovação representa um passo significativo na busca por maneiras econômicas de reduzir as desigualdades nas taxas de sobrevivência infantil, ao reforçar o apoio à amamentação e combater o estresse e a deficiência de ferro. Queremos garantir que os recursos e o apoio essenciais para o sucesso cheguem a quem mais precisa.
Maureen: O que é essencial no processo de inovação e o que pode ser um obstáculo? Existem certas condições que precisam estar presentes para que a inovação realmente aconteça?
Rad: A inovação prospera quando as pessoas se sentem empoderadas para experimentar, correr riscos e aprender rapidamente com os erros. Um ambiente favorável — que valorize a curiosidade e permita espaço para testes e iteração — é essencial para que a inovação floresça de verdade.
No entanto, a burocracia pode ser um grande obstáculo. Estruturas rígidas, múltiplas camadas de aprovação e o foco excessivo na redução de riscos muitas vezes sufocam a criatividade e retardam o progresso. Quando há burocracia demais e medo, isso desencoraja a tomada de decisões rápidas e limita a liberdade de testar novas abordagens.
A falta de financiamento e de incentivos para as equipes também são barreiras. O financiamento filantrópico raramente apoia projetos experimentais ou de alto risco, o que dificulta encontrar doadores dispostos a investir em inovação — especialmente quando o fracasso é parte do processo. Sem incentivos claros, os membros da equipe podem não se sentir motivados a desenvolver projetos inovadores.
Para apoiar a inovação, precisamos criar sistemas flexíveis que priorizem a agilidade em vez de processos excessivamente rígidos. Isso significa simplificar aprovações, promover uma comunicação aberta e segura, e cultivar uma cultura onde correr riscos calculados seja encorajado. Com essas condições, a inovação pode avançar com a força necessária para gerar impacto real.

Maureen: O que você acha que as pessoas costumam entender de forma errada quando se fala em inovação?
Rad: Muitas pessoas acham que inovação se resume à tecnologia, mas na verdade, trata-se de uma mentalidade e uma abordagem para a resolução de problemas. A inovação não está limitada a avanços tecnológicos; ela consiste em enxergar os desafios de forma diferente, identificar a raiz do problema e cocriar soluções em equipe.
Outro equívoco comum é acreditar que algumas pessoas “não conseguem” inovar. A verdade é que, com as metodologias certas — como nosso Innovation Design Sprint — qualquer pessoa pode acessar sua criatividade. Nossas equipes frequentemente se surpreendem com o nível de criatividade que despertam em si mesmas durante essas sessões. A inovação é acessível a todos; só precisa do ambiente adequado e de um espaço seguro para florescer.
Maureen: Você já disse que, na inovação, é preciso falhar para entender o que se está fazendo; se você não está falhando, então não está aprendendo. Pode compartilhar um exemplo de quando você reinterpretou uma falha como aprendizado, transformou esse aprendizado em uma oportunidade e usou essa oportunidade para inovar e resolver um problema específico?
Rad: Como bolsista da Global Health Corps em 2016, trabalhei com o Ministério da Saúde de Ruanda para implementar e aprimorar uma nova versão de um sistema de prontuário eletrônico (EMR) para distritos rurais na Província do Norte. O sistema original havia falhado porque era complexo demais para que os profissionais de saúde entendessem, utilizassem e adaptassem com facilidade — eles simplesmente não o utilizavam. Embora meu papel fosse redesenhar o sistema com foco no ser humano, aprendi rapidamente que as soluções precisam ser simples de adotar e desenvolvidas com base nos recursos que as pessoas realmente têm — e não no que presumimos que elas tenham, como Wi-Fi confiável ou tecnologia avançada.
Com parceiros de confiança e financiamento flexível, redesenhamos o sistema replicando as principais funcionalidades do EMR em uma ferramenta digital simples, baseada em aplicativo, que funcionava offline e sincronizava os dados com a nuvem sempre que uma conexão com a internet estivesse disponível.
Embora à primeira vista pareça que a inovação foi “criar um novo app”, a verdadeira inovação foi formar uma equipe e promover a colaboração. Reunimos membros do Ministério da Saúde, profissionais de saúde e membros da comunidade para cocriar e repensar como o novo sistema deveria ser. Tratava-se de reunir as pessoas certas, criar um ambiente de confiança e utilizar recursos financeiros direcionados para construir uma solução prática, escalável e renovada.

Maureen: Há mais alguma coisa que você gostaria de compartilhar e que ainda não abordamos?
Rad: A inovação é, em última análise, sobre pessoas, resolução de problemas e parcerias. As inovações mais bem-sucedidas são construídas com base na confiança, respeito e colaboração com as comunidades que buscamos apoiar. Empoderar as vozes locais no processo de inovação não apenas leva a soluções mais ricas e impactantes, mas também garante a sustentabilidade e o alinhamento com as necessidades reais.
Agora é o momento para uma inovação ousada em nosso setor. Precisamos ser ágeis, decididos e criativos — utilizando discernimento para tomar decisões rápidas e informadas, falhando rapidamente e aprendendo ainda mais rápido. É preciso força e coragem para abraçar a incerteza, mas esse desconforto alimenta o impulso necessário para construir soluções orientadas por missão que criam um impacto real.
Vamos adotar uma mentalidade orientada a produtos, quebrar barreiras rígidas e aproveitar o poder do trabalho em equipe para gerar ideias inovadoras. Os maiores desafios de nosso tempo exigem criatividade destemida — vamos nos levantar para enfrentá-los.
