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A Importância da Gestão de Resíduos Sólidos no Brasil: Reflexões a partir da 10ª EXPOCATADORES

Published 02/08/2024 by rferreira

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Participar ativamente do ecossistema que discute a gestão de resíduos sólidos no Brasil é um compromisso com a constante busca por conhecimento e soluções aplicáveis, especialmente em projetos como o da Cooperativa Estação Reciclar em Montenegro (RS). Iniciativa social da John Deere, em parceria com a Global Communities Brasil, empresas e o governo local, que exemplifica o potencial transformador da união de diversos setores se unirem em prol da sustentabilidade. Aqui, quando falamos em parcerias, nos referimos para além de investimentos financeiros. Queremos dizer que estamos juntos, lado a lado, participando continuamente de todos os momentos com os catadores, incentivando e acreditando no potencial deles. Faremos um artigo especial contando um pouco mais sobre a expertise da Global Communites Brasil em envolver os diferentes setores em prol de objetivos comuns.

Maria Janete, presidente da Cooperativa Estação Reciclar e Roseli Bianchi, coordenadora de projetos sociais Global Communities Brasil.

Em dezembro de 2023, tivemos a oportunidade de participar da 10ª edição da Expocatadores, evento referência no setor que reuniu mais de 2.500 catadores de materiais recicláveis de todo o Brasil, em Brasília (DF). Promovida pela Associação Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (ANCAT) – uma grande parceira da Global Communites Brasil -, pelo Movimento Nacional dos Catadores (MNCR) e pela UNICATADORES. Esta edição da Expocatadores, não apenas evidenciou a importância dos catadores na cadeia da reciclagem, mas também serviu como palco para debates cruciais sobre legislação, políticas públicas e a crise climática.

É essencial reconhecer que a gestão adequada de resíduos sólidos é fundamental para promover a sustentabilidade ambiental e mitigar os impactos negativos sobre o meio ambiente. A reciclagem e o reaproveitamento de materiais não apenas reduzem a necessidade de extrair recursos naturais, mas também estimulam a economia circular, geram empregos e reduzem a poluição.

Para exemplificar estas questões, compartilhamos duas práticas que temos realizado com os catadores do Projeto Reciclar, que são: ações nas escolas para conscientização de alunos sobre o descarte correto dos resíduos e, a campanha porta a porta, incentivando a comunidade a destinar os resíduos diretamente à Cooperativa.

Fernanda Mello, Diretora de Programas Global Communities Brasil e Argentina
Dra. Jacqueline Rutkowski apresentando o lançamento da 2ª edição do Atlas da Reciclagem

Um dos pontos altos da Expocatadores  foi o lançamento da 2ª edição do Atlas Brasileiro da Reciclagem, uma iniciativa crucial que fornece insights valiosos sobre o panorama atual da reciclagem no país.

Os dados apresentados neste atlas destacam a necessidade urgente de fortalecer a gestão de resíduos sólidos em nível municipal e de apoiar ainda mais a atuação dos catadores.

Ao analisarmos os dados apresentados, torna-se evidente que ainda há um longo caminho a percorrer para alcançar uma gestão de resíduos sólidos eficaz e sustentável. Para aumentar significativamente as taxas de recuperação de resíduos são necessários investimentos contínuos, políticas públicas assertivas e apoio às associações e cooperativas de catadores.

Um exemplo inspirador de como essa colaboração pode ser bem-sucedida é o Projeto Reciclar. Em estreita parceria com o setor privado e o poder público, este projeto tem contribuído significativamente para fortalecer a cooperativa local de catadores, promovendo tanto a cadeia de serviços quanto a cadeia de valor da reciclagem.

Roseli Bianchi, coordenadora de projetos sociais Global Communities Brasil

O Atlas da Reciclagem destaca que a cadeia de reciclagem no Brasil é composta por duas partes essenciais e interdependentes: a cadeia de serviços, que envolve a coleta seletiva e a gestão integrada de resíduos, e a cadeia de valor, na qual os resíduos são transformados em matéria-prima secundária. Os catadores de materiais recicláveis desempenham um papel crucial como elo entre essas duas cadeias, facilitando a transição dos resíduos para a indústria.

Veja a seguir dados extraídos do Atlas da Reciclagem, em que é possível ter uma visão mais abrangente do contexto da reciclagem no Brasil.

Dados sobre a atuação dos municípios

  • Apenas 27,5% das cidades brasileiras oferecem serviço de coleta seletiva porta a porta, modelo operacional mais indicado para aumentar as taxas de reciclagem de resíduos sólidos urbanos (RSU);
  • As empresas contratadas pelas prefeituras são responsáveis pela coleta de 46,6% da massa do RSU proveniente de coleta seletiva, enquanto as associações de catadores coletam 35,3%;
  • Em apenas 168 cidades registradas no ATLAS em 2022, identificou-se associações e cooperativas contratadas como prestadoras de serviço de coleta seletiva;
  • Somente 6,5% dos municípios têm relações formalizadas com as associações e cooperativas, considerando tanto contratos quanto convênios e termos de cooperação.

Atuação dos catadores

  • 9 em cada 10 kg de embalagens recicladas chegam à indústria de reciclagem por meio do trabalho dos catadores;
  • 64% das unidades de triagem municipais são geridas por associações ou cooperativas de catadores;
  • 74% dos catadores associados em cooperativas têm escolaridade de até o ensino fundamental completo e 2% concluíram o ensino superior;
  • Dos 65.829 catadores que compõem as organizações registradas no ATLAS, 79% se declaram negros e pardos e apenas 1% são indígenas.

Taxas de recuperação

  • Em 2021 a taxa de recuperação de recicláveis por associação/cooperativa variou de 0,162 a 370 toneladas.
  • Foram gerados 81,8 milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos em 2021 no Brasil, pouco mais de 1% a menos do que em 2020, tendo sido coletado 76,1 milhões de toneladas, dos quais mais de 80% foram materiais reaproveitáveis e recicláveis.

Em suma, eventos como a Expocatadores e iniciativas como o Projeto Reciclar nos lembram da grande importância da gestão de resíduos sólidos para a construção de um futuro mais sustentável. É hora de unirmos forças, investirmos em políticas eficazes e apoiarmos os heróis invisíveis que trabalham incansavelmente nas linhas de frente da reciclagem. Só assim poderemos verdadeiramente transformar os desafios em oportunidades e construir um mundo mais limpo, justo e sustentável para todos.